Na noite de ontem, 14 de março de 2024, tive o privilégio de assistir ao concerto de Luís Represas no Coliseu do Porto. O local, embora não estivesse completamente cheio, estava impregnado de expectativa. A chuva lá fora e o facto de ser um dia de semana podem ter afastado alguns, mas os que se reuniram ali estavam prestes a vivenciar algo especial.
À medida que as luzes diminuíam, Luís Represas subiu ao palco, com a sua presença imponente e, ao mesmo tempo, familiar. O mesmo timbre que outrora ressoava nas icónicas canções dos Trovante agora enchia a sala.
O alinhamento abrangeu décadas, evocando memórias e emoções. Canções como “Perdidamente” e “Saudade” trouxeram lágrimas aos olhos dos mais sensíveis. O legado dos Trovante continua vivo, e naquela noite, fomos seus guardiões. E então, eis que aconteceu: soaram as primeiras notas de “Feiticeira”, uma canção gravada na memória coletiva dos amantes da música portuguesa. Mas não foi apenas Represas quem lançou o feitiço. Daniel Viera, o saxofonista, teceu magia com o seu instrumento. A sua magistral interpretação durante “Feiticeira” causou arrepios a cada nota, tecendo um testemunho do poder duradouro da música.
Confesso o meu egoísmo: escolhi mergulhar no momento em vez de o registar para as redes sociais. Luís Represas merecia mais do que vídeos fugazes; merecia a nossa plena atenção. A sua voz, intocada pelo tempo, transportou-nos para uma era em que os Trovante dominavam as ondas sonoras.
Num mundo que avança rapidamente, às vezes precisamos de concertos como este para nos lembrarmos que a boa música deve ser sentida, não apenas partilhada online. Portanto, perdoem-me, mais uma vez, o meu egoísmo. Vou guardar esta experiência como uma melodia secreta que apenas o meu coração conhece.
Conforme o concerto se desenrolava, não pude deixar de pensar nos ausentes, naqueles que tinham falhado ao chamamento para um concerto tão único. As palavras de Jesus Cristo ecoaram na minha mente: “Perdoai-lhes Senhor, eles não sabem o que fazem.” Talvez tenham perdido a oportunidade de testemunhar uma lenda viva; um homem que, apesar dos anos passados, permanece inabalável na sua arte.
Brindemos a Luís Represas, às melodias intemporais e à magia que transcende noites encharcadas de chuva e a monotonia dos dias úteis. À medida que os acordes finais desvaneceram, senti-me grato; pela música, pelas memórias e pelo privilégio de fazer parte de algo eterno.
E ao sair do Coliseu, sussurrei um agradecimento silencioso. A música, afinal, é a linguagem da alma, e naquela noite, ela falou bem alto.
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